15 setembro 2025

O Projeto Ciranda e o encanto do CP-500 da Prológica

 


Quem viveu os anos 80 sabe: computador era sinônimo de futuro. Só de ouvir a palavra “microinformática” já batia um frio na barriga, como se estivéssemos prestes a entrar em um mundo novo. E foi nesse clima de descobertas que surgiu o Projeto Ciranda da Telesp.

A ideia era simples e, ao mesmo tempo, revolucionária: levar computadores para as escolas e mostrar às crianças que aquelas máquinas misteriosas poderiam ser grandes aliadas no aprendizado. De repente, salas que antes só tinham giz, quadro e cadernos passaram a ter algo totalmente diferente — uma fileira de máquinas barulhentas, com telas que piscavam em verde e preto, esperando para serem exploradas.

E no centro dessa revolução estava ele: o CP-500 da Prológica.
Um orgulho nacional. Um microcomputador fabricado no Brasil, compatível com o TRS-80, mas com sotaque brasileiro. Quem estudou em uma dessas salas sabe o impacto que era ligar o CP-500, esperar o barulho do drive de disquete ou do gravador de fita, e ver na tela o prompt do BASIC piscando, como se dissesse: “Estou pronto. O que você quer criar hoje?”

Para muitos, aquele foi o primeiro contato com programação.
Quantas vezes não digitamos linhas e mais linhas de 10 PRINT “OLA” / 20 GOTO 10, só para encher a tela de palavras repetidas? Parecia mágica. O computador obedecia a gente. Era como conversar com uma inteligência diferente, mas obediente e paciente.

O Projeto Ciranda foi mais do que aulas de informática: foi a primeira chance de sonhar com um futuro digital. Muitos dos profissionais de hoje, que trabalham com tecnologia, deram os primeiros passos em uma dessas salas. O Ciranda mostrou que computadores não eram apenas para empresas ou para poucos privilegiados — eram para todos, até para crianças de escola pública.

O CP-500, com sua carcaça robusta e seu jeitão sério, acabou virando símbolo de uma época em que o Brasil acreditava que podia criar sua própria tecnologia. Ele estava lá, presente em escolas, cursos, clubes e centros comunitários, ajudando a escrever a história de toda uma geração.

Hoje, olhar para trás dá uma pontinha de saudade. Daquele tempo em que cada comando digitado era uma descoberta. Em que computadores eram raros, mas cheios de possibilidades. E em que projetos como o Ciranda mostravam que, sim, o futuro poderia ser inventado aqui mesmo, no Brasil, com um teclado, uma tela verde e muita curiosidade.

 No Projeto Ciranda, a experiência começava já na chegada ao laboratório. O aluno sentava diante do CP-500, um computador que parecia coisa de outro planeta. Para “entrar” no Ciranda, não havia internet como hoje — a conexão era com o próprio sistema da Telesp, feito por meio de terminais e linhas telefônicas dedicadas, que ligavam as escolas e centros comunitários aos servidores centrais.

Era comum ouvir o barulho característico dos modems discando ou ver os técnicos cuidando da linha para garantir que o sinal estivesse estável. Muitas vezes, o acesso era feito por meio de um terminal CP-500 rodando BASIC, que se conectava ao sistema da Telesp. Ali, os alunos podiam explorar programas educativos, jogos de lógica, exercícios de português e matemática, tudo rodando em rede.

Para quem usava, parecia pura mágica: digitar alguns comandos, ouvir o chiado da conexão pela linha telefônica e, de repente, estar “dentro” do Ciranda. Era como abrir uma porta invisível para um mundo de conhecimento que não estava gravado no disquete da escola, mas sim em um sistema remoto, compartilhado por várias unidades.

Essa forma de conexão foi um dos maiores diferenciais do Ciranda. Não era apenas um curso de informática: era uma rede de aprendizado, interligando escolas, professores e estudantes. Para muitos, foi o primeiro contato com a ideia de “estar conectado”, algo que décadas depois se tornaria rotina com a internet.


Revista Micro Sistemas (junho/82) 





10 setembro 2025

Memórias de Fábrica: Tocadiscos Gallileu e o Fascínio pelos Technics

 Em 1978 e 1979, trabalhei na NIKO do Brasil, em São Paulo. A empresa, de origem argentina, era responsável por importar para o Brasil os tocadiscos Gallileu, fabricados na Argentina. Esses tocadiscos eram parte integrante dos famosos aparelhos 3 em 1 National SS8000, muito populares na época.


Tocadiscos Gallileu ( Imagem da Internet )

National SS8000 ( Imagem da Internet )

National, marca pertencente à japonesa Matsushita Electric Industrial Co., tinha sua fábrica instalada em São José dos Campos – SP. Além da linha National, a unidade também produzia no Brasil os lendários equipamentos da marca Technics, objetos de desejo de muitos apaixonados por som

Lendario Technics SL-1200 MK2, lançado em 1979 ( imagem da Internet )

Amplificador intergrado Technics SU-7300, do final da década de 70 (  Imagem da Internet


Na NIKO, meu trabalho era consertar os tocadiscos Gallileu que chegavam com defeito na linha de montagem. Eventualmente, eu também viajava até a fábrica da National, em São José dos Campos, para corrigir problemas diretamente na produção da Matsushita. Eram dias puxados: havia semanas em que eu consertava mais de 500 aparelhos. A prática intensa acabou me fazendo decorar de memória o código de todas as peças mecânicas desses tocadiscos.

E, confesso, cada vez que entrava na linha de produção da Matsushita, eu ficava simplesmente encantado com os equipamentos Technics. Era impossível não admirar aquelas máquinas que, para mim, representavam o que havia de mais avançado e sofisticado no mundo do áudio.


06 setembro 2025

Baby Boomers e computadores no Brasil



Se você nasceu entre 1946 e 1964, parabéns: você faz parte da geração Baby Boomer. No Brasil, esses anos foram de crescimento, industrialização e… muita curiosidade pelo que o futuro traria. Mas uma coisa era certa: quando nós,  eramos jovens, computador era coisa de ficção científica.

Quando os computadores chegaram

Nos anos 60 e 70, os computadores começaram a aparecer no Brasil, mas não eram aqueles laptops bonitinhos que a gente mexe hoje. Estamos falando de gigantes que ocupavam salas inteiras e precisavam de técnicos para ligar. A maioria dos Boomers olhava aquilo e pensava: “Isso nunca vai entrar no meu dia a dia.”

Anos 80: os microcomputadores chegam




Eu no laboratório da Revista Nova Eletrônica em 1979

Aí vieram os microcomputadores, Apple II, TRS-80, IBM PC. Eles eram mais “amigáveis”, mas ainda caríssimos. Quem tinha um na empresa ou na universidade era considerado quase um mago da tecnologia.

Para os Boomers, o computador não era brinquedo: era trabalho sério. Planilhas, processadores de texto e sistemas internos eram desafios enormes. Muitos precisaram aprender na marra, e algumas histórias dão até vontade de rir:

  • Digitando à mão cartas de clientes porque “o computador travou de novo”.
  • Gastando horas para salvar um arquivo em floppy disk de 8 ou  5 ¼ polegadas.
  • Chamando o técnico de informática toda vez que o computador fazia barulhos estranhos, tipo “bip… bip… bip”… e você tinha certeza que ele ia explodir.

A ponte entre o analógico e o digital

Apesar de toda dificuldade, os Boomers foram a ponte entre o mundo analógico e digital. Eles viram de tudo: da máquina de escrever ao Windows, passando por planilhas gigantes que pareciam mais quebra-cabeças.

Aprender a mexer em computadores foi, para muitos, uma questão de sobrevivência profissional  e de orgulho: quem dominava a máquina na empresa, ganhava status instantâneo.


Minha filha cunhado e sobrinhos na principal atração da sala, nos anos 90

Resumo

Os Boomers brasileiros foram pioneiros da informática sem nem sonhar que isso ia dominar nossas vidas. Eles foram os primeiros a ensinar “como mexer nesse bicho” para colegas e filhos, criando a ponte entre o mundo de papel e o mundo informatizado.


04 setembro 2025

Projeto e instalação de casas de Bingo nos anos 90

 

Teclado de membrana da mesa de controle (tenho o protótipo até hoje)

Em meados da década de 1990, após a legalização dos bingos por meio da chamada Lei Zico, fui contratado por um arquiteto envolvido na montagem de casas de bingo para investigar por que um grupo de engenheiros, responsáveis pelo projeto eletrônico e pelo software do sistema, não conseguia fazer seu próprio projeto funcionar.

Aceitei o desafio e passei alguns dias infiltrado na equipe, sem que soubessem do meu real objetivo ou das minhas habilidades. Após cerca de 15 dias, consegui identificar os problemas do projeto. Fui então oficialmente contratado para resolver a situação, e todos os engenheiros anteriores foram dispensados.

Na época, existia apenas um protótipo funcional, mas com funcionamento instável. Como já havia clientes com instalações em reforma para receber os equipamentos, não havia tempo para iniciar um novo projeto do zero. A solução mais viável foi “remendar” o projeto existente para que funcionasse minimamente bem.

Para quem não conhece, por trás de uma instalação comercial de bingo havia uma mesa de controle da extração, equipada com computador, monitores para câmeras, sistema de som, impressora, controlador de painéis e da bingueira (o equipamento onde as bolinhas eram sorteadas). Esses equipamentos eram operados manualmente, os painéis, a bingueira e as câmeras, todos acionados por chaves físicas.

No computador, havia um banco de dados e um software de controle. O banco de dados continha o layout de todas as cartelas já impressas em papel e numeradas.

A comunicação entre a mesa e os painéis, bem como com a bingueira, era feita através de placas com várias interfaces paralelas conectadas a cabos telefônicos múltiplos do tipo KS, um cabo para cada painel e para a bingueira. As distâncias chegavam a ultrapassar 30 metros. Imagine só: sinais TTL viajando por todo esse caminho!

No final (ou melhor, no começo) dessa história, consegui modificar o hardware e fazê-lo funcionar, mais ou menos.

A primeira instalação

A primeira instalação aconteceu em uma casa montada em um antigo cinema desativado na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Após muito trabalho para instalar tudo — incluindo cinco painéis com displays de sete segmentos feitos com lâmpadas incandescentes (não existiam displays de LED grandes para o projeto), instalados a cinco metros de altura,  começamos os primeiros testes de extração.

Já na véspera da inauguração, percebi que a tabela do banco de dados não coincidia com as cartelas já impressas pela gráfica. Como não havia tempo hábil para uma nova impressão, a única alternativa foi alterar o banco de dados. O problema é que o programador estava em São Paulo, e ainda não existia internet por lá.

Tive que abrir três caixas de cartelas, anotar manualmente a disposição dos números de cada uma delas em um arquivo de texto e passei a madrugada inteira acordado fazendo esse trabalho.

Na manhã seguinte, improvisei a logística: coloquei o arquivo em um disquete, paguei um motorista de ônibus para levá-lo até São Paulo. O programador buscou o disquete na rodoviária, corrigiu o banco de dados, gravou em outro disquete e me enviou de volta, também de ônibus.

Quando o disquete chegou a Araraquara, faltavam poucas horas para a inauguração. Por muita sorte, tudo funcionou.

Depois disso, ainda instalei mais três casas com esse mesmo hardware, até que comecei um novo projeto, com software feito em Visual Basic e hardware mais enxuto, moderno, e de operação automatizada, utilizando comunicação serial via RS-485.

Infelizmente, não tenho documentos nem fotos dessa empreitada, apenas um exemplar do teclado de membrana que seria utilizado nesse novo projeto. Abaixo um exemplo de casa de bingo da época e o exemplar, que tenho ainda hoje, do teclado do novo projeto.


Casa de Bingo nos anos 90 (imagem da internet)


Retro Terminal: Nostalgia com Tecnologia Moderna

 

Inspirado nos clássicos terminais VT100 da Digital, decidi dar vida a um projeto que unisse nostalgia e tecnologia: o terminal NANICO com visual retrô. Tudo começou depois de construir meus próprios computadores Altair 8800 NANICOS, e a ideia de criar um terminal personalizado logo ganhou forma.

Link do Altair 8800 NANICO:  https://erl4ever.blogspot.com/2025/04/computador-altari-8800-na-versao-nanico.html





Terminal VT100 da Digital de 1978

O primeiro protótipo combinava um Raspberry Pi com um monitor LCD de 9" na proporção 4:3, recriando a sensação dos terminais antigos. Já o segundo exemplar, feito sob encomenda para uso como console de jogos retro, adotou um monitor de 7" no formato 16:9, mais compacto, moderno e fácil de encontrar no mercado.

Comparação entre as duas versões




Graças ao Raspberry Pi, o terminal NANICO não é apenas bonito, mas também extremamente versátil. É possível usá-lo para diversos fins: basta trocar o cartão SD e rodar qualquer software compatível com o Pi. Essa flexibilidade abre um mundo de possibilidades para entusiastas de tecnologia, programação e até jogos retrô.

E não para por aí: o terminal vem equipado com um teclado mecânico gamer com iluminação programável, que pode ser destacado do gabinete, oferecendo conforto e praticidade para longas sessões de uso. Uma combinação perfeita entre design retrô e funcionalidades modernas, capaz de encantar qualquer fã de tecnologia clássica.
































27 agosto 2025

A produção de computadores no Brasil dos anos 1980

 

A década de 1980 marcou um período singular para a indústria de tecnologia no Brasil. Naquele contexto, as fábricas de computadores nacionais eram verdadeiros polos de inovação, mas operavam de forma muito diferente das linhas de produção altamente automatizadas que conhecemos hoje.

O vídeo em questão ilustra bem essa realidade: a fabricação de computadores era essencialmente manual, com grande participação de técnicos especializados que montavam cada equipamento peça por peça, realizando soldagens, testes e ajustes individualizados.

A fábrica da Microtec, retratada nas imagens, guarda semelhanças notáveis com a histórica unidade da Prológica, localizada na Avenida Santa Catarina, em São Paulo. Essas empresas foram pioneiras no desenvolvimento e fabricação de computadores nacionais, desempenhando papel fundamental no fortalecimento do setor de tecnologia durante a chamada Reserva de Mercado de Informática, que buscava impulsionar a produção local e reduzir a dependência de importações.

Essas imagens não apenas revelam o cuidado e a dedicação envolvidos na produção da época, mas também resgatam um capítulo importante da história da informática brasileira, quando a criatividade e a engenharia manual deram os primeiros passos rumo à digitalização do país.


Programa Plantão da Madrugada e a linha de produção da Microtec em 1986


Edifício onde operava a fábrica da Prológica no final dos anos 70.
Foto recente, a esquerda a fabrica, a direita a redaçãoe e laboratório da Revista Nova Eletrônica.









21 agosto 2025

O Encerramento da Produção do microprocessador Z80

 

O Fim de uma era na história da computação

 


Meu exemprar mais bonito do Z80A CPU

Em julho de 2025, a Zilog anunciou oficialmente o encerramento da produção do microprocessador Z80, um dos chips mais icônicos e longevos da história da eletrônica. Após quase 50 anos de atividade ininterrupta, chega ao fim a trajetória de um componente que marcou gerações de engenheiros, entusiastas e empresas de tecnologia.

 

A História do Z80

Lançado em 1976, o Z80 foi projetado por ex-engenheiros da Intel, que participaram do desenvolvimento do 8080. Compatível em grande parte com o 8080, mas trazendo recursos adicionais, como mais instruções, registradores extras e modos de interrupção mais sofisticados, o Z80 rapidamente ganhou espaço.
Sua popularidade se deveu não apenas ao custo competitivo, mas também à facilidade de implementação em projetos, já que integrava controladores que simplificavam o design de sistemas.

 

Versatilidade: Do Hobby ao Industrial

Um dos aspectos mais fascinantes do Z80 foi sua versatilidade. Ele estava presente em. kits para iniciantes que queriam aprender programação em linguagem de máquina ou eletrônica digital, mas também equipava sistemas avançados usados em telecomunicações, controle industrial e até equipamentos médicos.
Sua documentação clara e a grande comunidade em torno do chip o transformaram em um verdadeiro laboratório de aprendizado, sendo até hoje utilizado em projetos de ensino e retrocomputação.

Meu primeiro contato prático com o Z80 foi, ainda no laboratório da Revista Nova Eletrônica, no projeto do computador NE Z80. Deste então trabalhei com ele em inúmeros projetos, tanto profissionais como pessoais.

 

Onde o Z80 Fez História

Ao longo de décadas, o Z80 foi o cérebro de máquinas que marcaram época, como:

  • Computadores pessoais dos anos 70 e 80
    • TRS-80 (Tandy Radio Shack)
    • ZX Spectrum (Sinclair)
    • Amstrad CPC
    • MSX (padrão de computadores domésticos)
    • Osborne 1 (um dos primeiros portáteis)
  • Videogames e consoles
    • ColecoVision
    • SEGA Master System
    • Game Boy (Nintendo, como processador auxiliar)
  • Calculadoras e equipamentos industriais
    • Calculadoras gráficas da Texas Instruments (como TI-83 e TI-84 em versões mais antigas)
    • Sistemas de controle telefônico e automação
  • Equipamentos Brasileiros com Z80    

O Z80 também teve uma história rica no Brasil, especialmente durante a época da reserva de mercado da informática (anos 80 e início dos 90). Nesse período, muitas empresas nacionais produziram microcomputadores baseados nesse processador, tanto inspirados em modelos internacionais quanto em projetos próprios. Eis alguns exemplos marcantes:

    • MSX nacionais
      O padrão MSX, que usava o Z80 como processador central, foi bastante difundido no Brasil.
    • Gradiente Expert e Gradiente Expert Plus
    • Sharp Hotbit
      Esses micros marcaram época e foram muito usados para jogos, educação e até em escolas técnicas.
    • TK (Microdigital)
      Inspirados nos ZX Spectrum e outros modelos, os computadores da Microdigital fizeram história:
    • TK85, TK90X e TK95 – todos baseados no Z80 e bastante populares como computadores domésticos.
  • Prologica
    A Prologica foi outra gigante nacional que adotou o Z80:
Esquema de um dos computadores da Prologica

    • CP300 e CP500 – compatíveis com TRS-80 da Tandy, bastante usados em escritórios, escolas e pequenas empresas.
    • NE Z80, NE Z800 e CP200 – Compativeis com a linha ZX da Sinclar
    • Sistema 700 - Compatível com o Intertec Superbrain
  • Outros fabricantes
    • Dismac D8000 – compatível com TRS-80, voltado ao mercado corporativo.
  • CCE MC-1000 – um computador mais acessível, também baseado no Z80.

 

A Importância no Brasil

Esses micros foram a porta de entrada para a informática no país. Muitas pessoas que se tornaram engenheiros, programadores e técnicos começaram a programar em BASIC ou até em assembly de Z80 nesses computadores.
Além disso, eles mostraram a força da indústria nacional em uma época em que importar tecnologia era difícil e caro.

O Z80 ainda foi amplamente usado como processador secundário em placas de arcade, auxiliando no controle de som e periféricos.

 

O Legado

Mesmo com seu ciclo produtivo terminando, o Z80 deixa um legado imenso. Ele foi um divisor de águas na computação acessível, ajudando a formar gerações de programadores e engenheiros. Hoje, sua presença continua viva em simuladores, em projetos educacionais e no movimento maker, que encontra no Z80 uma porta de entrada acessível para entender a arquitetura de computadores.

O encerramento de sua produção representa o fim de uma era, mas não o fim de sua relevância. O Z80 seguirá como parte da história da tecnologia, lembrado como um chip que uniu simplicidade, versatilidade e durabilidade incomparáveis.



14 abril 2025

Construíndo o computador Altair 8800 na versão NANICO

 

Seguindo os passos dos modelos CP500 e CP200 em versões reduzidas, o Altair 8800 também ganhou sua versão em escala menor, denominada "NANICO". Esta réplica, com aproximadamente 60% do tamanho original, foi construída utilizando um painel de acrílico, gabinete em MDF e é emulada por uma placa Arduino Due.


O berçario do ALTAIR 8800 NANICO.




Altair 8800: O Computador que Iniciou a Revolução Pessoal

Imagem: The National Museum of American History 

Imagine o mundo da computação em 1975: enormes máquinas trancadas em laboratórios, acessíveis apenas a cientistas, universidades e grandes corporações. O conceito de um "computador pessoal" parecia distante — até que um projeto ousado mudou tudo. Seu nome? Altair 8800.

Desenvolvido pela empresa MITS (Micro Instrumentation and Telemetry Systems), o Altair 8800 foi lançado como um kit para hobbyistas na revista Popular Electronics, em janeiro de 1975. Custando cerca de 400 dólares, vinha em uma caixa azul metálica com fileiras de interruptores e luzes. Não tinha teclado, monitor ou mouse — mas tinha algo ainda mais poderoso: o potencial de colocar a computação nas mãos de qualquer pessoa curiosa o bastante para montá-lo.

Engenheiro e ex-militar Henry Edward Roberts, criador o Altair 8800

Lançamento do Altair 8800

Anúncio na revista - O Altair 8800 era vendido em Kit para montagem



O exemplar da Popular Eletronics pode ser baixado aqui:



O Altair 8800 usa o processador Intel 8080 e logo atraiu a atenção de entusiastas e engenheiros. Entre eles, dois jovens chamados Bill Gates e Paul Allen. Eles viram no Altair uma oportunidade única e desenvolveram uma versão da linguagem BASIC para ele — o que acabou se tornando o primeiro produto da Microsoft.

Bill Gates

Paul Allen


1975

Esse pequeno computador de aparência modesta desencadeou uma revolução. Ele inspirou toda uma geração de inventores, programadores e empreendedores. Foi o catalisador para o nascimento da indústria dos PCs, abrindo caminho para gigantes como Apple, IBM e a própria Microsoft.

Hoje, o Altair 8800 é mais do que uma peça de hardware obsoleta. Ele é símbolo de um momento crucial na história da tecnologia — quando a computação deixou os laboratórios e começou a entrar nas casas, nas garagens e nas mentes de quem mudaria o mundo.


Carregando o Basic, primeiro produto da Microsoft, no Altair 8800



O primeiro computador da Prologica


O primeiro computador da Prologica, anunciado na edição número 3 da revista Nova Eletrônica, foi o Prológica 1. Pelo que apurei, ele foi baseado no Altair 8800b Turnkey. Quando eu ainda trabalhava na Nova Eletrônica, cujo laboratório ficava ao lado do primeiro endereço da Prologica, costumava vasculhar o depósito onde eram guardados protótipos e peças descartadas, mas nunca vi um exemplar desse computador.

Uma cópia da revista Nova Eletronica pode ser baixada aqui :

 https://datassette.org/revistas/nova-eletronica-br-brasil-eletronica-revistas/nova-eletronica-03


Altair 8800b Turnkey


Prologica 1 -  Imagem gerada pelo Chat GPT baseada nas fotos da Nova Eletronica




Anúncio na revista

Capa do artigo da revista




A minha versão "NANICO" do Altair 8800


O Altair 8800 NANICO rodando o jogo CATCHUM, um jogo baseado no Pac Man, só que para CP/M

No coração da emulação está a placa Arduino Due, responsável por recriar o comportamento do Altair original com notável fidelidade.


Arduino Due



Por que o Arduino Due?


O Arduino Due oferece recursos ideais para esse projeto:

  • 64 KB de RAM emulada
  • Velocidade de execução muito próxima do Altair 8800 real
  • Capacidade de armazenamento permanente ao utilizar a memória flash de 512 KB disponível
  • Pinos de I/O suficientes para conectar os LEDs e chaves do painel frontal

Além disso, o Due permite o uso de até 32 KB de armazenamento semipermanente, ideal para carregar e salvar programas e dados no próprio emulador.



Principais recursos do emulador


  • Reprodução fiel do comportamento do painel frontal do Altair
  • Desempenho equivalente ao Altair 8800 real 
  • RAM emulada:
    • 64 KB no Arduino Due

  • Pacote de software incluso:
    • Pong
    • Altair 4K BASIC (o primeiro produto da Microsoft)
    • Altair Extended BASIC
    • MITS Programming System II (exclusivo para o Due)
    • Altair Time Sharing BASIC (permite múltiplos usuários simultâneos)
  • Programas de exemplo em BASIC e Assembler prontos para uso
  • Emulação de placas periféricas:

    • 88-SIO, 88-2SIO, 88-ACR (cassete de áudio)
    • Cada porta serial pode ser mapeada para uma interface física do Arduino (por padrão, via USB a 115200 baud 8N1)
    • Dongle Bluetooth para uso com dispositivos móveis como terminais
  • Comunicação serial dupla no Due:

    • A interface USB (Serial) e a Serial1 (pinos 18/19) podem ser usadas ao mesmo tempo
  • Captura e reprodução de dados seriais, inclusive da fita ACR, em até 256 arquivos armazenados localmente (EEPROM ou flash)
  • Interface cassete compatível com comandos CSAVE e CLOAD do Extended BASIC — funciona automaticamente, sem configuração manual
  • Suporte à emulação de vídeo:

    • Cromemco Dazzler (requer hardware/software adicional)
    • Processor Technology VDM-1 (também requer suporte extra)
  • Emulação de armazenamento:

    • Até 16 unidades de disco 88-DCDD (4 por padrão) com uso de cartão SD via SPI
    • Controlador de disco rígido 88-HDSK, com até 4 HDs e 4 pratos por unidade
    • Placa 88-RTC-VI com relógio em tempo real e suporte a interrupções vetoriais — essencial para rodar Time Sharing BASIC
  • Salvamento e carregamento de páginas de memória (256 bytes) diretamente do painel frontal
  • Editor de configuração integrado: permite alterar várias definições sem mexer no código
  • Armazenamento em cartão SD:
    • SD armazena os dados permanentemente



O Painel do Altair 8800 nanico


A partir deste ponto, apresentarei o andamento do projeto. Novas informações serão adicionadas à medida que estiverem disponíveis.

O painel possui dimensões de 296 mm de largura por 107 mm de altura. Ele foi confeccionado a partir de uma placa de acrílico branco com 2 mm de espessura, previamente pintada na cor cinza chumbo. Os cortes e gravações foram feitos a laser, garantindo precisão e acabamento de qualidade.

As chaves e LEDs são fixados por encaixe preciso nos orifícios do painel e travados com uma pequena gota de cola, assegurando firmeza e durabilidade.



Painel pronto para receber os componentes

Painel com todos os componentes fixados

Chaves e LEDs

Ligações dos cabos do painel



A emulação com o ARDUINO Due


O projeto é uma adaptação do original "Arduino Altair 8800 Simulator" de David Hansel, publicado em 2017 no site Hackster.io.

Os detalhes da construção, assim como os arquivos fonte para o Arduino e manuais do emulador podem ser baixados no site:

É necessário que o IDE do arduino esteja atualizado para que inclua as bibliotecas do DUE, eu utilizo a versão 2.3.6 e funcionou perfeitamente. 

Inicialmente eu compilei o programa com o parâmetro "#define STANDALONE 1" no arquivo  "config.h" isso permite que o emulador funcione no modo de depuração com somente a interface serial, sem a necessidade das chaves e LEDs fisicos conectrados. 

O resultado, ligado a um terminal serial, é este.  Esta opção permite o controle através de comandos no terminal:






Rodando o primeiro programa em BASIC


Para carregar o BASIC no emulador o meio mais fácil é setar as chaves A0 a A7 para 0000101 e baixar a chave AUX1. 


Testando o primeiro  BASIC da Microsoft de 

Totalmente funcional - Rodando CP/M

Trabalhando no acabamento do gabinete


Painel traseiro


Interior, ainda sem organizar os fios


Teste com o painel retro-iluminado


Às vezes, as coisas se complicam por detalhes que, à primeira vista, parecem bobos. Foi uma verdadeira maratona fazer a faixa frontal onde está o nome do Altair e o logo da MITS.

Aqui onde moro, não foi fácil encontrar quem fizesse a impressão em papel laminado que imitasse fielmente o alumínio escovado. Acabei encontrando esse papel em um fornecedor de papéis especiais em São Paulo. Depois de muita procura, encontrei a empresa GRAPHIMAR (@graphimar | solicitegrafica@gmail.com | (13)3491-6711), que entendeu perfeitamente minha necessidade e realizou a impressão a laser com excelente qualidade.

Papel laminado


Teste de impressão


Finalizado


Detalhe do painel frontal


Detalhe do painel traseiro




Contato da Graphimar



Ainda dando crédito a quem merece, o corte a laser e a gravação dos componentes do gabinete foram realizados pela empresa CRICK LASER, que tem sido minha parceira em projetos há bastante tempo. O trabalho deles, como sempre, foi de alta precisão e qualidade. (13) 99720-5717

Fabricando o painel em acrílico


No berçário
 

Testando o emulador de terminal retrô



Cool-Retro-Term em ação