Quem viveu os anos 80 sabe: computador era sinônimo de
futuro. Só de ouvir a palavra “microinformática” já batia um frio na barriga,
como se estivéssemos prestes a entrar em um mundo novo. E foi nesse clima de
descobertas que surgiu o Projeto Ciranda da Telesp.
A ideia era simples e, ao mesmo tempo, revolucionária: levar
computadores para as escolas e mostrar às crianças que aquelas máquinas
misteriosas poderiam ser grandes aliadas no aprendizado. De repente, salas que
antes só tinham giz, quadro e cadernos passaram a ter algo totalmente diferente
— uma fileira de máquinas barulhentas, com telas que piscavam em verde e preto,
esperando para serem exploradas.
E no centro dessa revolução estava ele: o CP-500 da
Prológica.
Um orgulho nacional. Um microcomputador fabricado no Brasil, compatível com o
TRS-80, mas com sotaque brasileiro. Quem estudou em uma dessas salas sabe o
impacto que era ligar o CP-500, esperar o barulho do drive de disquete ou do
gravador de fita, e ver na tela o prompt do BASIC piscando, como se dissesse: “Estou
pronto. O que você quer criar hoje?”
Para muitos, aquele foi o primeiro contato com programação.
Quantas vezes não digitamos linhas e mais linhas de 10 PRINT “OLA” / 20 GOTO
10, só para encher a tela de palavras repetidas? Parecia mágica. O
computador obedecia a gente. Era como conversar com uma inteligência diferente,
mas obediente e paciente.
O Projeto Ciranda foi mais do que aulas de
informática: foi a primeira chance de sonhar com um futuro digital. Muitos dos
profissionais de hoje, que trabalham com tecnologia, deram os primeiros passos
em uma dessas salas. O Ciranda mostrou que computadores não eram apenas para
empresas ou para poucos privilegiados — eram para todos, até para crianças de
escola pública.
O CP-500, com sua carcaça robusta e seu jeitão sério,
acabou virando símbolo de uma época em que o Brasil acreditava que podia criar
sua própria tecnologia. Ele estava lá, presente em escolas, cursos, clubes e
centros comunitários, ajudando a escrever a história de toda uma geração.
Hoje, olhar para trás dá uma pontinha de saudade. Daquele
tempo em que cada comando digitado era uma descoberta. Em que computadores eram
raros, mas cheios de possibilidades. E em que projetos como o Ciranda mostravam
que, sim, o futuro poderia ser inventado aqui mesmo, no Brasil, com um teclado,
uma tela verde e muita curiosidade.
Era comum ouvir o barulho característico dos modems
discando ou ver os técnicos cuidando da linha para garantir que o sinal
estivesse estável. Muitas vezes, o acesso era feito por meio de um terminal
CP-500 rodando BASIC, que se conectava ao sistema da Telesp. Ali, os alunos
podiam explorar programas educativos, jogos de lógica, exercícios de português
e matemática, tudo rodando em rede.
Para quem usava, parecia pura mágica: digitar alguns
comandos, ouvir o chiado da conexão pela linha telefônica e, de repente, estar
“dentro” do Ciranda. Era como abrir uma porta invisível para um mundo de
conhecimento que não estava gravado no disquete da escola, mas sim em um
sistema remoto, compartilhado por várias unidades.
Essa forma de conexão foi um dos maiores diferenciais do
Ciranda. Não era apenas um curso de informática: era uma rede de aprendizado,
interligando escolas, professores e estudantes. Para muitos, foi o primeiro
contato com a ideia de “estar conectado”, algo que décadas depois se
tornaria rotina com a internet.