04 setembro 2025

Projeto e instalação de casas de Bingo nos anos 90

 

Teclado de membrana da mesa de controle (tenho o protótipo até hoje)

Em meados da década de 1990, após a legalização dos bingos por meio da chamada Lei Zico, fui contratado por um arquiteto envolvido na montagem de casas de bingo para investigar por que um grupo de engenheiros, responsáveis pelo projeto eletrônico e pelo software do sistema, não conseguia fazer seu próprio projeto funcionar.

Aceitei o desafio e passei alguns dias infiltrado na equipe, sem que soubessem do meu real objetivo ou das minhas habilidades. Após cerca de 15 dias, consegui identificar os problemas do projeto. Fui então oficialmente contratado para resolver a situação, e todos os engenheiros anteriores foram dispensados.

Na época, existia apenas um protótipo funcional, mas com funcionamento instável. Como já havia clientes com instalações em reforma para receber os equipamentos, não havia tempo para iniciar um novo projeto do zero. A solução mais viável foi “remendar” o projeto existente para que funcionasse minimamente bem.

Para quem não conhece, por trás de uma instalação comercial de bingo havia uma mesa de controle da extração, equipada com computador, monitores para câmeras, sistema de som, impressora, controlador de painéis e da bingueira (o equipamento onde as bolinhas eram sorteadas). Esses equipamentos eram operados manualmente, os painéis, a bingueira e as câmeras, todos acionados por chaves físicas.

No computador, havia um banco de dados e um software de controle. O banco de dados continha o layout de todas as cartelas já impressas em papel e numeradas.

A comunicação entre a mesa e os painéis, bem como com a bingueira, era feita através de placas com várias interfaces paralelas conectadas a cabos telefônicos múltiplos do tipo KS, um cabo para cada painel e para a bingueira. As distâncias chegavam a ultrapassar 30 metros. Imagine só: sinais TTL viajando por todo esse caminho!

No final (ou melhor, no começo) dessa história, consegui modificar o hardware e fazê-lo funcionar, mais ou menos.

A primeira instalação

A primeira instalação aconteceu em uma casa montada em um antigo cinema desativado na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Após muito trabalho para instalar tudo — incluindo cinco painéis com displays de sete segmentos feitos com lâmpadas incandescentes (não existiam displays de LED grandes para o projeto), instalados a cinco metros de altura,  começamos os primeiros testes de extração.

Já na véspera da inauguração, percebi que a tabela do banco de dados não coincidia com as cartelas já impressas pela gráfica. Como não havia tempo hábil para uma nova impressão, a única alternativa foi alterar o banco de dados. O problema é que o programador estava em São Paulo, e ainda não existia internet por lá.

Tive que abrir três caixas de cartelas, anotar manualmente a disposição dos números de cada uma delas em um arquivo de texto e passei a madrugada inteira acordado fazendo esse trabalho.

Na manhã seguinte, improvisei a logística: coloquei o arquivo em um disquete, paguei um motorista de ônibus para levá-lo até São Paulo. O programador buscou o disquete na rodoviária, corrigiu o banco de dados, gravou em outro disquete e me enviou de volta, também de ônibus.

Quando o disquete chegou a Araraquara, faltavam poucas horas para a inauguração. Por muita sorte, tudo funcionou.

Depois disso, ainda instalei mais três casas com esse mesmo hardware, até que comecei um novo projeto, com software feito em Visual Basic e hardware mais enxuto, moderno, e de operação automatizada, utilizando comunicação serial via RS-485.

Infelizmente, não tenho documentos nem fotos dessa empreitada, apenas um exemplar do teclado de membrana que seria utilizado nesse novo projeto. Abaixo um exemplo de casa de bingo da época e o exemplar, que tenho ainda hoje, do teclado do novo projeto.


Casa de Bingo nos anos 90 (imagem da internet)


Nenhum comentário:

Postar um comentário