Nos últimos anos, um fenômeno curioso vem crescendo
silenciosamente: pessoas redescobrindo tecnologias antigas, não por necessidade, mas por paixão.
De um lado, temos os entusiastas da computação clássica, que revivem máquinas
lendárias como o Altair 8800, ZX Spectrum ou TRS-80 por meio de emuladores
modernos e réplicas físicas.
Do outro, os radioamadores, que antes dependiam exclusivamente das ondas de
rádio e hoje exploram redes digitais globais como a BrandMeister, usando DMR,
D-Star e outros modos modernos.
À primeira vista, parecem dois hobbies completamente
diferentes. Mas, olhando mais de perto, há um paralelo fascinante entre eles, e
até alguns momentos bem curiosos.
Nostalgia: a centelha que reacende a paixão
Tanto no mundo da computação retrô quanto no
radioamadorismo, tudo começa com um sentimento em comum: nostalgia.
Para quem viveu os primórdios da informática, ver um prompt piscando em um
terminal CP/M ou ouvir o chiado de um drive de fita cassete é quase como abrir
uma cápsula do tempo.
Já para os radioamadores, ligar um velho transceptor e ouvir o característico
“CQ CQ” no éter desperta lembranças de quando cada contato era uma conquista, e
não um simples clique num aplicativo.
Ferramentas modernas a serviço do passado
É curioso perceber como ambos os grupos usam tecnologias
modernas para manter viva a experiência clássica:
- Na
computação retrô, em vez de caçar hardware antigo (caro e muitas vezes
quebrado), muitos optam por emuladores precisos, como SimH, MAME ou
implementações em Raspberry Pi. Há também os kits modernos, como o Altair
Duino, que oferecem a experiência original com mais confiabilidade.
- No
radioamadorismo, modos digitais como DMR, D-Star, Fusion e redes como a BrandMeister
permitem que um simples HT portátil se conecte ao mundo inteiro via
internet, misturando RF local com backbone IP global.
E o melhor: hoje é possível, com equipamentos simples, de
baixa potência e custo acessível, conversar com pessoas em todos os
continentes.
Um pequeno rádio digital, um hotspot pessoal e uma conexão à internet já são
suficientes para estabelecer QSOs internacionais, algo que, décadas atrás,
exigiria antenas enormes, amplificadores caros e muita sorte com a propagação.
Ou seja, ninguém está preso ao passado, o passado é que está
ganhando superpoderes modernos e democráticos.
Comunidade e experimentação: a alma dos hobbies
Esses mundos têm algo essencial em comum: comunidades
apaixonadas.
Nos fóruns e grupos retrô, usuários trocam softwares antigos, recriam sistemas
operacionais perdidos e compartilham truques de restauração.
Nos grupos de radioamadores, há “nets” regulares, discussões sobre antenas,
propagação e agora, cada vez mais, sobre repetidores digitais e hotspots
pessoais.
E é aí que aparecem algumas cenas bem divertidas.
Quem já acompanhou QSOs em redes digitais como BrandMeister provavelmente já
presenciou situações em que o operador, no meio de uma conversa totalmente via
internet, pergunta:
“Como está chegando meu sinal aí?”
Uma pergunta que fazia todo sentido no mundo analógico, mas que hoje, numa rede
100% digital e roteada por servidores, soa quase irônica. O “sinal” não chega
forte ou fraco… ele chega perfeito ou não chega.
É como se alguém, em uma chamada de vídeo, perguntasse se a voz está “chegando
com boa propagação ionosférica”! 😄
Tradição e inovação, lado a lado
Talvez a parte mais bonita desse paralelo seja ver que tradição
e inovação não se excluem, elas se complementam.
Um computador de 1977 pode hoje rodar em um emulador dentro de um navegador, e
um rádio simples pode conversar com o outro lado do mundo usando DMR e
internet.
Essas combinações criam novas formas de viver hobbies antigos, sem perder o
charme original.
O filme que o radioamador fala com o passado "Alta Frequência" (Frequency), de 2000. A trama acompanha um policial que, através de um aparelho de rádio do seu falecido pai, consegue se comunicar com o passado, com o próprio pai que viveu no passado. https://www.imdb.com/pt/title/tt0186151/
Construíndo computadores do passado com emuladores
Altair 8800: https://erl4ever.blogspot.com/2025/04/computador-altari-8800-na-versao-nanico.html
PROLOGICA CP200: https://erl4ever.blogspot.com/2023/01/prologica-cp200-nanico.html
PROLOGICA CP500: https://erl4ever.blogspot.com/2017/01/meu-cp500-prologica-na-versao-nanico.html
Radioamadorismo, minha trajetória
https://erl4ever.blogspot.com/2023/10/radioamador.html
Conclusão
No fundo, tanto os entusiastas da computação retrô quanto os
radioamadores modernos compartilham o mesmo espírito: explorar, preservar e
reinventar.
Seja digitando comandos em BASIC ou fazendo QSO por uma rede digital com um
radinho simples, o objetivo é o mesmo, manter viva a curiosidade tecnológica e
criar pontes entre o passado e o presente.
E, convenhamos: há algo de especial em ver tecnologia antiga
e moderna coexistindo, às vezes de forma até engraçada. É a prova de que,
quando a paixão é verdadeira, a inovação não apaga a história, ela a amplia.
assadvassado.o.