03 outubro 2025

Entre Bits e Ondas: Quando Computadores Retrô e Radioamadores Digitais Se Encontram

 



Nos últimos anos, um fenômeno curioso vem crescendo silenciosamente: pessoas redescobrindo tecnologias antigas,  não por necessidade, mas por paixão.
De um lado, temos os entusiastas da computação clássica, que revivem máquinas lendárias como o Altair 8800, ZX Spectrum ou TRS-80 por meio de emuladores modernos e réplicas físicas.
Do outro, os radioamadores, que antes dependiam exclusivamente das ondas de rádio e hoje exploram redes digitais globais como a BrandMeister, usando DMR, D-Star e outros modos modernos.

À primeira vista, parecem dois hobbies completamente diferentes. Mas, olhando mais de perto, há um paralelo fascinante entre eles, e até alguns momentos bem curiosos.

 

Nostalgia: a centelha que reacende a paixão

Tanto no mundo da computação retrô quanto no radioamadorismo, tudo começa com um sentimento em comum: nostalgia.
Para quem viveu os primórdios da informática, ver um prompt piscando em um terminal CP/M ou ouvir o chiado de um drive de fita cassete é quase como abrir uma cápsula do tempo.
Já para os radioamadores, ligar um velho transceptor e ouvir o característico “CQ CQ” no éter desperta lembranças de quando cada contato era uma conquista, e não um simples clique num aplicativo.

 

Ferramentas modernas a serviço do passado

É curioso perceber como ambos os grupos usam tecnologias modernas para manter viva a experiência clássica:

  • Na computação retrô, em vez de caçar hardware antigo (caro e muitas vezes quebrado), muitos optam por emuladores precisos, como SimH, MAME ou implementações em Raspberry Pi. Há também os kits modernos, como o Altair Duino, que oferecem a experiência original com mais confiabilidade.
  • No radioamadorismo, modos digitais como DMR, D-Star, Fusion e redes como a BrandMeister permitem que um simples HT portátil se conecte ao mundo inteiro via internet, misturando RF local com backbone IP global.

E o melhor: hoje é possível, com equipamentos simples, de baixa potência e custo acessível, conversar com pessoas em todos os continentes.
Um pequeno rádio digital, um hotspot pessoal e uma conexão à internet já são suficientes para estabelecer QSOs internacionais, algo que, décadas atrás, exigiria antenas enormes, amplificadores caros e muita sorte com a propagação.

Ou seja, ninguém está preso ao passado, o passado é que está ganhando superpoderes modernos e democráticos.


Rádio portátil e Hotspot conectado a rede digital,  DMR, atrsvés da internet


Computadores da década de 80 em versões modernas emuladas. Ambos tem a metade do tamanho dos originais.



 Comunidade e experimentação: a alma dos hobbies

Esses mundos têm algo essencial em comum: comunidades apaixonadas.
Nos fóruns e grupos retrô, usuários trocam softwares antigos, recriam sistemas operacionais perdidos e compartilham truques de restauração.
Nos grupos de radioamadores, há “nets” regulares, discussões sobre antenas, propagação e agora, cada vez mais, sobre repetidores digitais e hotspots pessoais.

E é aí que aparecem algumas cenas bem divertidas.
Quem já acompanhou QSOs em redes digitais como BrandMeister provavelmente já presenciou situações em que o operador, no meio de uma conversa totalmente via internet, pergunta:

“Como está chegando meu sinal aí?”
Uma pergunta que fazia todo sentido no mundo analógico, mas que hoje, numa rede 100% digital e roteada por servidores, soa quase irônica. O “sinal” não chega forte ou fraco… ele chega perfeito ou não chega.
É como se alguém, em uma chamada de vídeo, perguntasse se a voz está “chegando com boa propagação ionosférica”! 😄

 

Mapa da rede de radioamadorismo BandMeister

Caminho, simplificado, de uma conexão digital de radioamadorismo


Tradição e inovação, lado a lado

Talvez a parte mais bonita desse paralelo seja ver que tradição e inovação não se excluem, elas se complementam.
Um computador de 1977 pode hoje rodar em um emulador dentro de um navegador, e um rádio simples pode conversar com o outro lado do mundo usando DMR e internet.
Essas combinações criam novas formas de viver hobbies antigos, sem perder o charme original.

 



Presente

Passado

Cena do filme Alta frequência

O filme que o radioamador fala com o passado  "Alta Frequência" (Frequency), de 2000. A trama acompanha um policial que, através de um aparelho de rádio do seu falecido pai, consegue se comunicar com o passado, com o próprio pai que viveu no passado. https://www.imdb.com/pt/title/tt0186151/


Construíndo computadores do passado com emuladores

Altair 8800: https://erl4ever.blogspot.com/2025/04/computador-altari-8800-na-versao-nanico.html

PROLOGICA CP200: https://erl4ever.blogspot.com/2023/01/prologica-cp200-nanico.html

PROLOGICA CP500: https://erl4ever.blogspot.com/2017/01/meu-cp500-prologica-na-versao-nanico.html


Radioamadorismo, minha trajetória

https://erl4ever.blogspot.com/2023/10/radioamador.html


Conclusão

No fundo, tanto os entusiastas da computação retrô quanto os radioamadores modernos compartilham o mesmo espírito: explorar, preservar e reinventar.
Seja digitando comandos em BASIC ou fazendo QSO por uma rede digital com um radinho simples, o objetivo é o mesmo, manter viva a curiosidade tecnológica e criar pontes entre o passado e o presente.

E, convenhamos: há algo de especial em ver tecnologia antiga e moderna coexistindo, às vezes de forma até engraçada. É a prova de que, quando a paixão é verdadeira, a inovação não apaga a história, ela a amplia.


assadvassado.o.