Tempos atrás às vezes me pegava pensando que ouvir música de, e com, qualidade era coisas do passado.
É raro em qualquer grupo, cujo assunto seja música, o “papo” seguir para o lado da música de qualidade ou mais raro ainda da audição em Hi Fi. Fora de raríssimas rodas que tratam de música e audição de qualidade, que normalmente são embaladas pelos “coroas”, a maioria dos jovens vive num mundo de música estritamente comercial e literalmente comprimida nos formatos populares de armazenamento, nos minúsculos gabinetes dos aparelhos atuais, além da compressão em termos de qualidade da peça musical.
Mesmo no passado, nos tempos dourados do Hi Fi, o lado comercial das gravadoras já clamava pela compactação ou compressão do som na tentativa de adaptar suas produções às massas dos equipamentos populares emergentes.
“Se a maioria não poderia ter uma caixa acústica de tamanho adequado para reproduzir graves então porque não retiramos os graves das produções?”.
Estes pensamentos, focados na compressão pela retirada de elementos musicais, como o baixo, somaram-se à necessidade de maior capacidade de armazenamento. Com o surgimento dos aparelhos portáteis que popularmente foram chamados de Walkman, marca registrada da SONY, podia-se levar o som para qualquer lugar, o que tornou maior a necessidade de fazer caber mais música em menos espaço.
Na década de 90 com o aparecimento do MP3 este mercado explodiu, e literalmente colocou um pouco de lado o aspecto qualidade ao som. Inicialmente os aparelhos possuíam pouca capacidade de armazenamento, portanto, os tamanhos dos arquivos MP3 teriam que chegar a 1/20 ou mais do que os mesmos no formato de CD e, claro, a qualidade caia drasticamente.
A grande vantagem, atribuída ao formato MP3, é que permite diminuir drasticamente o tamanho do arquivo retirando-se componentes do som que supostamente são inaudíveis ou não essenciais. O problema desta compressão é que estes elementos inaudíveis e não essenciais afetam, de forma geral, a qualidade, modificando nossa percepção do som e podem inserir outros componentes que originalmente não estão presentes na peça original.
Ouvir estes arquivos em equipamentos Low End (de baixa qualidade) e/ou em condições não ideais de audição ( na rua, no carro, etc.) não causa grandes frustrações, porque num todo a baixa qualidade e as interferências externa filtram os problemas causados pelas perdas, porém, ouvir estes arquivos em equipamentos Hi Fi de alta qualidade certamente será frustrante, pois os problemas serão acentuados em muito mais grau do que as melhorias que o equipamento Hi Fi poderiam acrescentar.
Como muitos que estão lendo este texto não tem, ainda, acesso a equipamentos de alta qualidade e fontes sonoras adequadas para a comparação, vou citar um cenário de exemplo que, embora não esteja relacionado com som, é similar e com certeza muitos já vivenciaram.
Quando montei meu primeiro home theater, em 1998, procurei o que de melhor o meu bolso poderia comprar, em matéria de TV. Nesta época possuía uma assinatura de TV à cabo analógica, que em minha região possuía um sinal de qualidade. Minha TV, de 29 polegadas era fantástica e podia reproduzir todos os detalhes que a transmissão a cabo analógica fornecia na época.
Ao migrar para a TV por assinatura digital, ainda SD (Definição Standard), que prometia imagens sem ruído e de alta qualidade, logo percebi que a verdade não era exatamente esta.
Ao instalar o receptor digital, em minha TV cuidadosamente regulada para sessões de DVD, a imagem do sinal digital parecia horrível, cheia de quadriculados, sem muita definição e em certos momentos de movimento os detalhes ficam literalmente chapados.
Mas como uma TV de qualidade, devidamente regulada, poderia apresentar uma imagem ruim com um sinal digital? A resposta estava na compressão do sinal da TV digital.
O equipamento de alta qualidade (TV), ao que comparo ao equipamento de áudio Hi Fi, mostrava com muito mais definição e clareza os defeitos causados pela compressão e digitalização do sinal de TV digital e as melhorias eram insignificantes. Hoje em dia este efeito é muito mais evidenciado utilizando-se TVs de HD (Alta Definição) com o sinal SD (Definição Standard) das transmissões de TV digital.
Com uma fonte de sinal de baixa qualidade, a qualidade final fica inversamente proporcional a qualidade o equipamento de reprodução, neste caso a TV. Mas se eu assistir um sinal SD em um aparelho de TV, de baixa qualidade e resolução, estes defeitos não ficam evidentes.
Voltando ao mundo do som, fica claro que a qualidade da fonte sonora assim como dos meios, ou formatos de armazenamento são fundamentais para uma audição Hi Fi, independente de ser analógico (LPs, fitas, transmissões de rádio, etc.) ou digital. Isto corrobora o efeito de corrente na cadeia auditiva, onde a qualidade total nunca será maior que a qualidade do pior elemento ou “elo mais fraco” da cadeia.
A audição Hi Fi começa na escolha e na qualidade da fonte sonora e do material musical.
Na continuação abordarei com mais profundidade os aspectos deste e de outros formatos da fonte sonora e como suas características influenciam na experiência auditiva.
Continua...
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