O Fim de uma era na
história da computação
Em julho de 2025, a Zilog anunciou oficialmente o
encerramento da produção do microprocessador Z80, um dos chips mais
icônicos e longevos da história da eletrônica. Após quase 50 anos de atividade
ininterrupta, chega ao fim a trajetória de um componente que marcou gerações de
engenheiros, entusiastas e empresas de tecnologia.
A História do Z80
Lançado em 1976, o Z80 foi projetado por
ex-engenheiros da Intel, que participaram do desenvolvimento do 8080.
Compatível em grande parte com o 8080, mas trazendo recursos adicionais,
como mais instruções, registradores extras e modos de interrupção mais
sofisticados, o Z80 rapidamente ganhou espaço.
Sua popularidade se deveu não apenas ao custo competitivo, mas também à
facilidade de implementação em projetos, já que integrava controladores que
simplificavam o design de sistemas.
Versatilidade: Do Hobby ao Industrial
Um dos aspectos mais fascinantes do Z80 foi sua versatilidade.
Ele estava presente em. kits para iniciantes que queriam aprender programação em
linguagem de máquina ou eletrônica digital, mas também equipava sistemas
avançados usados em telecomunicações, controle industrial e até
equipamentos médicos.
Sua documentação clara e a grande comunidade em torno do chip o transformaram
em um verdadeiro laboratório de aprendizado, sendo até hoje utilizado em
projetos de ensino e retrocomputação.
Meu primeiro contato prático com o Z80 foi, ainda no laboratório da Revista Nova Eletrônica, no projeto do computador NE Z80. Deste então trabalhei com ele em inúmeros projetos, tanto profissionais como pessoais.
Onde o Z80 Fez História
Ao longo de décadas, o Z80 foi o cérebro de máquinas que
marcaram época, como:
- Computadores
pessoais dos anos 70 e 80
- TRS-80
(Tandy Radio Shack)
- ZX
Spectrum (Sinclair)
- Amstrad
CPC
- MSX
(padrão de computadores domésticos)
- Osborne
1 (um dos primeiros portáteis)
- Videogames
e consoles
- ColecoVision
- SEGA
Master System
- Game
Boy (Nintendo, como processador auxiliar)
- Calculadoras
e equipamentos industriais
- Calculadoras
gráficas da Texas Instruments (como TI-83 e TI-84 em versões mais
antigas)
- Sistemas de controle telefônico e automação
- Equipamentos Brasileiros com Z80
O Z80 também teve uma história
rica no Brasil, especialmente durante a época da reserva de mercado da
informática (anos 80 e início dos 90). Nesse período, muitas empresas
nacionais produziram microcomputadores baseados nesse processador, tanto
inspirados em modelos internacionais quanto em projetos próprios. Eis alguns
exemplos marcantes:
- MSX
nacionais
O padrão MSX, que usava o Z80 como processador central, foi bastante difundido no Brasil. - Gradiente
Expert e Gradiente Expert Plus
- Sharp
Hotbit
Esses micros marcaram época e foram muito usados para jogos, educação e até em escolas técnicas. - TK
(Microdigital)
Inspirados nos ZX Spectrum e outros modelos, os computadores da Microdigital fizeram história: - TK85,
TK90X e TK95 – todos baseados no Z80 e bastante populares
como computadores domésticos.
- Prologica
- A Prologica foi outra gigante nacional que adotou o Z80:
- CP300
e CP500 – compatíveis com TRS-80 da Tandy, bastante usados em
escritórios, escolas e pequenas empresas.
- NE
Z80, NE Z800 e CP200 – Compativeis com a linha ZX da Sinclar
- Sistema 700 - Compatível com o Intertec Superbrain
- Outros
fabricantes
- Dismac
D8000 – compatível com TRS-80, voltado ao mercado corporativo.
- CCE
MC-1000 – um computador mais acessível, também baseado no Z80.
A Importância no Brasil
Esses micros foram a porta de entrada para a informática
no país. Muitas pessoas que se tornaram engenheiros, programadores e
técnicos começaram a programar em BASIC ou até em assembly de Z80
nesses computadores.
Além disso, eles mostraram a força da indústria nacional em uma época em que
importar tecnologia era difícil e caro.
O Z80 ainda foi amplamente usado como processador secundário
em placas de arcade, auxiliando no controle de som e periféricos.
O Legado
Mesmo com seu ciclo produtivo terminando, o Z80 deixa um
legado imenso. Ele foi um divisor de águas na computação acessível, ajudando a
formar gerações de programadores e engenheiros. Hoje, sua presença continua
viva em simuladores, em projetos educacionais e no movimento maker, que
encontra no Z80 uma porta de entrada acessível para entender a arquitetura de
computadores.
O encerramento de sua produção representa o fim de uma era,
mas não o fim de sua relevância. O Z80 seguirá como parte da história da
tecnologia, lembrado como um chip que uniu simplicidade, versatilidade e
durabilidade incomparáveis.